sábado, junho 07, 2008

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Pode ser um cliché incessantemente referido, mas não há nada que me toque mais, que me doa mais que uma pessoa que não sente o peso de um pedaço de pão no estômago há largos dias. Que bebe água a custo, que enfrenta a humilhação e a vergonha de ter de pedir para ter o mínimo das suas necessidades básicas. Como, onde consegue fazer as suas necessidades fisiológicas?
No fundo, são as pessoas mais olhadas e mais conhecidas. Podemos viver numa cidade dez anos que não conheceremos nem um terço dos rostos das pessoas todas. Mas, com certeza, saberemos quem é o quarentão de barbas longas e suas, de cara morena devido à sujidade acumulada e falta de lavagem, de unhas compridas e pretas, de feridas nos pés e nas mãos, de fedor insuportável, de dentes provavelmente estragados, de pés sobre um cartão de supermercado, de mão estendida pelo hábito, de sorriso nulo e tristeza incorporada.
A mãe que dá de prenda ao filho mais velho, com os seus catorze anos, um jantar no McDonald's e que, por isso mesmo, ficará sem comer umas quantas refeições.
A criança que não se lembra se faz anos ou é Natal. Que se esqueceu do sabor da torrada e do copo de leite morno.
Não digo que, devido aos atendados, às más políticas governamentais e a uma série de outras coisas o valor da vida humana seja menor que um barril de crude, não seja uma das grandes tragédias do nosso tempo mas...
Como é possível uma idosa ter de ficar a dever dinheiro na farmácia, porque a sua reforma não chega nem para pagar os medicamentos de que necessita mensalmente?
Secalhar não estou a ser generalista e não estou a falar de um problema que afecte uma sociedade ou um povo, mas é uma coisa que afecta milhões de pessoas.
A Pobreza. A Miséria.

2 comentários:

Marta Queiroz disse...

Merecido "++".
Escreves bem, mas escreves pouco. LOL.
És um tótó.
Mas daqueles que eu gosto muito :)

Anónimo disse...

O famoso texto da aula de português que fomos todos forçados (e com muito gosto) a ler...
Gosto muito de ti Rú.